O testamento de
Ana Maria de Oliveira, datado de 22 de agosto de 1800, é um documento que
oferece uma visão rica da vida e dos costumes da época em que foi redigido, na
freguesia de Pitangui, no bispado de Mariana, Minas Gerais. Pitangui foi uma
das primeiras vilas do estado de Minas Gerais, com um papel importante durante
o período colonial brasileiro, especialmente no contexto da mineração de ouro.
Ana Maria de
Oliveira, filha legítima de Antônio José Maya e de Ana Maria de Oliveira, ambos
já falecidos, era natural da freguesia de Pitangui e residente no sítio Capão,
termo de Vila de Pitangui. Casada com Theodósio Soares Louzada, ela teve onze
filhos, sendo eles: Ana (casada com Antônio Jose de Magalhães), Angélica
(casada com José Antônio da Silva), Maria (casada com Luiz Severino de
Carvalho), Theodósio, Pedro, Domingos, Antônio, Luiz, Tomás, João e José.
No testamento,
Ana Maria de Oliveira nomeia quatro de seus filhos como testamenteiros:
Theodósio Soares de Oliveira, Domingos Francisco Soares, Tomás de Aquino Soares
e Antônio Francisco Soares, concedendo-lhes amplos poderes para administrar
seus bens e estipulando prazos para prestação de contas, com uma recompensa de
dez mil réis pelo trabalho.
Após o pagamento
de suas dívidas e legados, Ana Maria deixa doze mil réis para suas netas
Angélica (filha de José Antônio da Silva e Angélica Maria do Espírito Santo) e
Maria (filha de Antônio José de Magalhães e Ana Vieira). Ela expressa o desejo
de ser sepultada na Capela de Nossa Senhora Santa Ana no Arraial da Onça, ou na
capela ou igreja mais próxima, caso falecesse em outro lugar. Seu corpo deveria
ser envolto no hábito de Nossa Senhora do Monte do Carmo, acompanhado pelo
reverendo pároco ou capelão, com missa de corpo presente e esmola de uma oitava
de ouro.
Ana Maria também solicita que sejam ditas sessenta missas na cidade do Rio de Janeiro, sendo cinquenta por sua alma e dez pelas almas de seus pais. Ela declara ainda uma doação ao Bispo de Mariana de doze oitavas de ouro para distribuição, mencionando uma restituição que devia sem saber a quem.
O testamento foi
aprovado por José da Silva Cruz, tabelião, na fazenda da Restinga, com
testemunhas presentes para validar o documento. A abertura oficial do
testamento ocorreu em 15 de setembro de 1800, na presença de autoridades
locais.
Este testamento é
um reflexo da organização familiar e social da época, destacando a importância
da religião e das práticas católicas no Brasil colonial. Os detalhes fornecidos
sobre herdeiros, disposições patrimoniais e práticas funerárias oferecem uma janela
para a vida cotidiana e valores da sociedade mineira do século XIX.
O documento
revela aspectos da administração de bens e responsabilidades atribuídas aos
herdeiros, demonstrando um sistema complexo de gestão e transmissão de
patrimônio. A nomeação de múltiplos testamenteiros e a provisão de incentivos
para a execução fiel das vontades da testadora são indicativos de um cuidado
meticuloso com a continuidade e proteção dos interesses familiares.
Em conclusão, o
testamento de Ana Maria de Oliveira é um valioso registro histórico que
proporciona insights sobre a cultura, religião e estrutura familiar da
sociedade brasileira colonial. A análise expandida deste documento nos permite
apreciar a riqueza de detalhes e a importância das tradições na vida dos
indivíduos da época, bem como as complexidades envolvidas na gestão e
distribuição de bens e responsabilidades após a morte.
Nestas Minas do Sertão de Pitangui
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