O testamento de
Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castello Branco, datado de 25 de fevereiro
de 1822, é um documento rico em detalhes que reflete a complexidade da
sociedade e da economia rural do Brasil colonial, especificamente em Pitangui. A
Fazenda do Pompéu, no termo da Vila de Pitangui, era uma área significativa no
contexto das minas gerais no início do século XIX. O ano de 1822 é
particularmente importante, pois coincide com o período da Independência do
Brasil.
Joaquina Bernarda
da Silva de Abreu Castello Branco — a dama do sertão, também conhecida como
Dona Joaquina do Pompéu, era uma mulher de destaque na região, evidenciada pela
extensão de suas posses e a complexidade de suas disposições testamentárias.
Filhos e
Herdeiros: Joaquina menciona seus filhos e netos como herdeiros universais.
Seus filhos, como o Capitão Mor Félix de Oliveira Campos, o Capitão Joaquim
Antônio de Oliveira Campos, e outros, são destacados tanto pela ordem de
nascimento quanto por seus títulos militares, indicando a relevância social e
econômica da família.
Genros:
Ela menciona também seus genros, como o Capitão João Cordeiro Valadares e o
Guarda Mor Joaquim Cordeiro Valadares, o que demonstra a importância das
alianças familiares através do casamento.
Distribuição
de Bens: Joaquina especifica a divisão de sua herança entre seus filhos e
netos, incluindo legados específicos como os $400.000 (quatrocentos mil réis)
para seu filho Joaquim Antônio de Oliveira Campos em reconhecimento aos
serviços prestados.
Libertação de
Escravos: Ela decreta a liberdade de sua escrava mulata Maria Agostinha e
suas filhas, além de conceder esmolas significativas para Maria Agostinha e sua
filha Luisa.
Exposições Religiosas: Joaquina destaca sua devoção religiosa, especificando o uso do hábito de Nossa Senhora do Monte do Carmo para seu sepultamento e a realização de duzentas missas por sua alma. Também deixa fundos para a manutenção de capelas, refletindo seu papel como protetora devota.
Testamenteiros:
A escolha de Joaquim Antônio de Oliveira Campos como testamenteiro principal,
seguida por outros familiares, mostra a confiança e a responsabilidade
atribuída a ele.
Prazo e
Condições: Ela estabelece um prazo de sete anos para a execução de suas
disposições, com a possibilidade de extensão e um prêmio pelo trabalho.
Validade e
Aprovação: O testamento é formalmente aprovado em 12 de março de 1822, com
testemunhas presentes e a assinatura do tabelião José Ferreira Rates. Em 8 de
dezembro de 1824, o testamento é apresentado lacrado e sem emendas, sendo
registrado e aceito por Joaquim Antônio de Oliveira Campos.
Joaquina menciona
um livro de razão onde faz várias declarações, indicando que esse documento é
parte integral do testamento. Ela especifica que os remanescentes de sua
herança devem ser repartidos entre os netos, com uma parte específica destinada
a seu genro Capitão Antônio Alves da Silva e, em caso de seu falecimento, para
seus netos.
O testamento de
Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castello Branco oferece uma visão detalhada
da vida, das preocupações e das responsabilidades de uma mulher influente no
Brasil colonial. As disposições refletem não apenas sua riqueza material, mas
também seus valores familiares e religiosos, bem como sua preocupação com a
libertação e o bem-estar de seus escravos. Este documento é um valioso recurso
histórico para entender a dinâmica social e econômica de Pitangui no início do
século XIX.
Na América
portuguesa, apesar da misoginia prevalecente, poucas mulheres conseguiram
ocupar cargos de gestão empresarial e administração agrícola que eram
normalmente reservados aos homens. Dona Joaquina do Pompéu, conhecida como A
Dama do Sertão, foi uma dessas mulheres excepcionais que desafiou as normas da
sociedade. Ela assumiu o papel de chefe de família, exercendo controle e grande
influência sobre seus negócios, tornando-se uma grande empreendedora. Além de
sua influência e poder, Dona Joaquina desempenhou um papel significativo no
processo de Independência do Brasil, sendo uma das poucas figuras femininas
notáveis dos séculos XVIII e XIX. Seu testamento não é apenas um registro de
suas últimas vontades, mas também um testemunho de sua posição e impacto na
sociedade de sua época.
O Testamento de
Donna Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco foi “cozido e
lacrado com cinco pontos de retros azul claro e outros tantos pingos de lacre
vermelho por banda”. Aprovado pelo segundo tabelião, na Fazenda do Pompéu a
12 de março de 1822.
Referências:
Realização, arte e roteiro: Historiador Charles Aquino
Pesquisa e Paleografia: Áureo Nogueira da Silveira e Dr. Alan Penido
Acervo: IHP – Instituto Histórico de Pitangui, Minas Gerais
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