O testamento de Antônio Magalhães Portilho, redigido e datado de 1º de outubro de 1792 e aberto em 16 de janeiro de 1793 em Pitangui, é um documento histórico que oferece um vislumbre das práticas e valores de sua época. Nele, Antônio expressa seus últimos desejos, preocupações religiosas e disposições patrimoniais.
Antônio se
declara doente, mas goza de boa saúde, e estabelece claramente a estrutura de
sua herança e as responsabilidades a serem cumpridas por seus executores:
1º Origem e
Filiação: Antônio Magalhães Portilho declara ser natural da Freguesia de São
Clemente de Basto, no Arcebispado de Braga. Filho de Bento Portilho de
Magalhães, da casa da Torre, e Josepha de Magalhães, ambos falecidos.
2º Estado Civil e
Descendência: Antônio é casado com Dona Marciana Maria de Jesus. Do matrimônio,
teve doze filhos: Maria, Antônia, Antônio, Manoel, Bento, Anna, Francisco,
Rosa, Maria, Merlina, João e José. Ele institui todos os filhos como seus
herdeiros universais, especificando que não tem outros herdeiros nem filhos
naturais.
3º Testamenteiros
e Administração: Primeira testamenteira: Dona Marciana Maria de Jesus, sua
esposa; Segundo testamenteiro: seu sobrinho, Alferes Manoel Antônio de
Magalhães, morador no Arraial de Santa Barbara; Terceiro testamenteiro: Alferes
Manoel Matheus de Sousa Soares; Os testamenteiros são responsáveis pela
administração geral da terça parte de seus bens.
4º Instruções
Funerárias: Antônio deseja ser amortalhado no hábito de Nossa Senhora do Carmo,
ou na falta deste, no hábito de Santo Antônio; seu corpo será sepultado na
Capela de Santo Antônio de São João Acima, ou onde os testamenteiros
determinarem; Missa de corpo presente será rezada com esmola de uma oitava de
ouro e um ofício de corpo presente; Missas e Esmolas: Vinte e cinco missas
pelas almas do Purgatório; Vinte e cinco missas pelas almas dos escravos
falecidos; Vinte missas pelas almas dos pais falecidos; Cento e cinquenta
missas pela própria alma de Antônio; Clero será pago para rezar oitavário de
missas.
5º Legados
Específicos: Lourenço Antunes Nogueira recebe vinte oitavas de ouro; Manoel,
afilhado de Antônio, filho de Catarina e João de Brito, recebe dez oitavas de
ouro; Dotação para a filha Maria Josepha: um negro (Domingos), uma cabra
(Custódia), uma mulatinha (Senhorinha), e trinta oitavas de ouro; Dotação para
a filha Antônia: uma crioula (Paula), um moleque (Ventura), oitenta oitavas de
ouro para enxoval, além de 429.037 réis deduzidos de uma venda.
6º Prêmio ao
Testamenteiro: O testamenteiro que aceitar o encargo receberá 200.000 réis pelo
trabalho, além de mais tempo, se necessário, para concluir suas obrigações.
Antônio não
apenas se preocupou com a distribuição de seus bens materiais, mas também com a
salvação espiritual, dedicando recursos significativos para missas que visavam
garantir seu descanso eterno e a remissão dos pecados de seus entes queridos.
Essa ênfase na espiritualidade e nas práticas religiosas sublinha a profunda
ligação entre fé, vida e morte no contexto histórico do testamento.
A preocupação com
as disposições funerárias e a quantidade de missas dedicadas às almas no
Purgatório e aos falecidos evidenciam o profundo temor e respeito que os
testamenteiros tinham pela salvação de suas almas. A prática de assegurar
missas e esmolas para garantir a redenção após a morte era comum e reflete o
contexto religioso e cultural da época, onde a preparação para a vida após a
morte era considerada de extrema importância.
O testamento de
Antônio Magalhães Portilho revela muito sobre as práticas sociais e econômicas
do final do século XVIII. A distribuição de bens, a importância dada às
práticas religiosas, e o cuidado com o futuro da família e dos servos falecidos
são aspectos marcantes. Além disso, destaca a formalidade e a seriedade com que
os testamentos eram tratados, refletindo a importância da preservação do
patrimônio e da memória familiar.
Referências:
Realização, arte
e roteiro: Historiador Charles Aquino
Pesquisa e
Paleografia: Áureo Nogueira da Silveira e Dr. Alan Penido
Acervo: IHP – Instituto Histórico de Pitangui, Minas Gerais
0 comments:
Postar um comentário